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AZUL 04

SÍNTESE “DEI VERBUM”

São Paulo: Loyola, 1997. Constituição Dei Verbum. In Documentos do Concílio Vaticano II: constituições, decretos, declarações. Petrópolis: Vozes, 1966



O Capítulo I do documento busca a natureza da revelação divina e seu propósito. Deus, em Sua bondade e sabedoria, escolheu revelar a Si mesmo e revelar o mistério de Sua vontade ao homem. Isso só é possível através de Cristo, o Verbo encarnado, que permite ao ser humano ter acesso ao Pai por meio do Espírito Santo e tornar participante da natureza divina. A revelação divina se desdobra ao longo da história por meio de ações e palavras interligadas, onde as obras de Deus confirmam o significado das palavras, e as palavras esclarecem as obras.

Deus revela-Se aos seres humanos desde a criação, fornecendo um testemunho contínuo de Sua existência e poder. Ele cuidou da humanidade ao longo da história, prometendo redenção após a queda de Adão e Eva e preparando o caminho para o Evangelho por meio de Abraão e dos profetas.

A consumação e plenitude da revelação ocorrem em Cristo, o Filho de Deus, que se encarna para habitar com os seres humanos e revelar o Pai. Jesus Cristo realiza a obra de salvação e, por meio de Sua morte e ressurreição, confirma a revelação divina. A economia cristã é considerada a aliança definitiva e não se espera outra revelação pública antes da segunda vinda de Cristo. A aceitação da revelação divina requer fé e obediência. A fé é um ato livre e total de entrega a Deus, com a ajuda da graça divina e do Espírito Santo. A compreensão da revelação aprofunda-se com a contínua assistência do Espírito Santo por meio de Seus dons.

A revelação divina é necessária para que os seres humanos possam conhecer a Deus e Seus planos eternos de salvação. Por mais que a razão humana possa reconhecer a existência de Deus depois da criação, a revelação divina torna acessível e compreensível o que, de outra forma, estaria além da capacidade da inteligência humana. Por fim, o Concílio Vaticano II reconhece a importância da revelação divina para o conhecimento de Deus e de Sua vontade.

No capítulo II é aborda a transmissão da revelação divina ao longo da história. Deus, em Sua sabedoria, planejou que a Sua revelação fosse preservada e transmitida às gerações futuras para a salvação de todos os povos. Ele instruiu os Apóstolos a pregar o Evangelho como a fonte de toda a verdade e disciplina de costumes, cumprindo assim a promessa feita pelos profetas. Os Apóstolos, tanto por meio da pregação oral, exemplos e instituições, quanto pela escrita inspirada, transmitiram os dons divinos que receberam de Cristo e do Espírito Santo. Para garantir que o Evangelho permanecesse vivo na Igreja, os Apóstolos designaram os Bispos como seus sucessores, transferindo-lhes seu ofício de magistério. A Sagrada Tradição, juntamente com a Sagrada Escritura, serve como um espelho no qual a Igreja contempla a Deus e Sua revelação. Essa tradição apostólica, guiada pelo Espírito Santo, progride ao longo do tempo, à medida que a compreensão das palavras e ensinamentos transmitidos se aprofunda por meio do estudo, contemplação e pregação dos crentes.

A relação entre a Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura é íntima, pois ambas têm a mesma fonte divina e compartilham o mesmo objetivo. A Sagrada Escritura é a Palavra de Deus escrita por inspiração divina, enquanto a Sagrada Tradição transmite integralmente a Palavra de Deus confiada pelos Apóstolos por meio do Espírito Santo. A Igreja não baseia sua certeza apenas na Sagrada Escritura, mas também na Sagrada Tradição.

A Igreja, como um todo, guarda e professa a fé transmitida por meio da Sagrada Tradição e da Sagrada Escritura. A autoridade de interpretar autenticamente a Palavra de Deus foi confiada ao magistério vivo da Igreja, que atua em nome de Jesus Cristo. O magistério não está acima da Palavra de Deus, mas a serve, ensinando apenas o que foi transmitido fielmente. “A Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o magistério da Igreja estão unidos e trabalham juntos sob a orientação do Espírito Santo para a salvação das almas.”

Já o Capítulo III, trata da natureza da inspiração divina da Sagrada Escritura e sua interpretação. A Sagrada Escritura é considerada como tendo sido escrita por inspiração do Espírito Santo e é vista como tendo Deus como seu autor. No entanto, Deus escolheu e usou seres humanos com suas capacidades e faculdades para escrever os livros sagrados. Assim, tudo o que é afirmado pelos autores inspirados deve ser considerado como afirmado pelo Espírito Santo, e os livros da Escritura ensinam com certeza, fidelidade e sem erro a verdade que Deus quis comunicar para nossa salvação.

Quando se trata da interpretação da Sagrada Escritura, é importante entender que Deus falou por meio dos seres humanos e na forma humana. Os intérpretes devem investigar com atenção o que os autores sagrados realmente queriam comunicar por meio de suas palavras. Isso envolve considerar os diferentes gêneros literários presentes na Escritura, pois a verdade é expressa de maneiras diversas, dependendo do gênero usado, como “histórico, profético ou poético.” Além disso, os intérpretes devem levar em conta o contexto histórico e cultural em que os autores sagrados viveram, bem como os modos de expressão comuns em sua época. A interpretação correta também requer atenção ao contexto e à unidade de toda a Escritura, juntamente com a Tradição viva da Igreja e a analogia da fé.


“A Sagrada Escritura deve ser lida e interpretada com o mesmo espírito com o qual foi escrita.” A autoridade final para a interpretação da Escritura reside na Igreja, que tem o mandato divino de guardar e interpretar a Palavra de Deus. A "condescendência" de Deus é destacada como a maneira pela qual Ele se comunicou com os seres humanos por meio da Sagrada Escritura, usando a linguagem humana para revelar Sua sabedoria e cuidado pela natureza humana. Portanto, a Escritura reflete a compreensão divina da humanidade e é uma expressão da bondade e cuidado de Deus.

O Capítulo IV fala do Antigo Testamento e sua importância na história da salvação. Deus escolheu o povo de Israel como um meio especial para revelar Suas promessas e planos de salvação para toda a humanidade. Ele estabeleceu alianças com Abraão e Moisés, revelando-se como o único Deus verdadeiro e vivo por meio de palavras e obras. A economia da salvação, previamente anunciada e narrada pelos autores sagrados, está registrada nos livros do Antigo Testamento como a verdadeira Palavra de Deus. Esses livros inspirados têm um valor perene e são uma fonte de instrução e esperança para os fiéis.

O Antigo Testamento desempenha um papel crucial na preparação, anúncio profético e simbolização da vinda de Cristo como o Redentor universal e do Reino messiânico. Além disso, “revela o conhecimento de Deus, o tratamento justo e misericordioso de Deus em relação aos seres humanos e a sabedoria sobre a vida humana.” Apesar de conter elementos transitórios, o Antigo Testamento reflete a pedagogia divina e contém doutrinas sublimes sobre Deus e a salvação, bem como preciosas orações que expressam o mistério da salvação. Deus, como inspirador e autor dos dois Testamentos, ordenou sabiamente que o Novo Testamento estivesse implícito no Antigo e que o Antigo fosse revelado plenamente no Novo. O Novo Testamento assume integralmente a pregação do Antigo, dando-lhe significado completo, enquanto o Antigo Testamento ilumina e explica o Novo. Essa unidade demonstra a sabedoria divina na disposição das Escrituras, destacando a continuidade da revelação divina ao longo da história da salvação.

O Capítulo V, destaca a excelência do Novo Testamento como a Palavra de Deus que se manifesta de maneira eminente nos escritos do Novo Testamento. Ele enfatiza que, quando chegou a plenitude dos tempos, o Verbo se fez carne em Jesus Cristo e realizou a obra da salvação por meio de Sua vida, morte, ressurreição e envio do Espírito Santo. O Novo Testamento testemunha esses eventos e é uma fonte divina perene de ensinamentos e verdades para a salvação dos crentes. Os Evangelhos ocupam um lugar central no Novo Testamento, pois são o principal testemunho da vida e doutrina de Jesus Cristo. A Igreja sempre afirmou sua origem apostólica e sua historicidade, acreditando que eles transmitiram fielmente as palavras e obras de Jesus durante Sua vida terrena. Os autores sagrados escreveram os Evangelhos com a intenção de comunicar informações autênticas e verdadeiras sobre Jesus, baseando-se em sua compreensão e no testemunho daqueles que foram testemunhas oculares dos eventos.

Além dos Evangelhos, o Novo Testamento inclui as Epístolas de São Paulo e outros escritos apostólicos que foram inspirados pelo Espírito Santo. Esses escritos confirmam a doutrina de Cristo, explicam Sua obra redentora, narram os primeiros anos da Igreja e anunciam sua futura glória. O Espírito Santo assistiu os Apóstolos, cumprindo a promessa de Jesus, e os guiou na escrita desses escritos para transmitir a plenitude da verdade aos crentes.

Já o capítulo VI, nos mostra o papel crucial das Sagradas Escrituras na vida da Igreja. A Igreja sempre reverenciou as Escrituras como sendo a própria Palavra de Deus, comparando essa veneração ao tratamento dado ao Corpo do Senhor. Ela considera as Escrituras, juntamente com a Tradição, como a regra suprema de sua fé. As Escrituras são vistas como uma fonte inesgotável da palavra de Deus e do Espírito Santo, cuja leitura e estudo devem ser a base da pregação e da religião cristã. A importância das traduções da Sagrada Escritura é enfatizada, com a Igreja encorajando a produção de traduções fiéis em várias línguas, tornando a Palavra de Deus acessível a todos. Destaca-se a importância da investigação bíblica, na qual os estudiosos da Sagrada Escritura trabalham em colaboração com o sagrado magistério para estudar e explicar as Escrituras de maneira a fortalecer a fé dos crentes.

A Sagrada Escritura é a base da teologia e que todo ministério da palavra, como a pregação e a catequese, deve ser fundamentado nela. A leitura frequente das Escrituras é recomendada para todos os fiéis, e é enfatizada a necessidade de acompanhá-la com a oração, para haver um diálogo eficiente entre Deus e o homem. Os pastores da Igreja são chamados a ensinar os fiéis sobre o uso adequado das Escrituras, especialmente do Novo Testamento e dos Evangelhos, para que os membros da Igreja se familiarizem com elas e compreendam seu espírito. Também é recomendado que se produzam edições da Sagrada Escritura com anotações apropriadas para uso tanto dos cristãos como dos não cristãos. O estudo das Sagradas Escrituras é fundamental para a vida espiritual da Igreja e que, à medida que a palavra de Deus se resplandece, a vida da Igreja é enriquecida e renovada espiritualmente.


Texto: Filosofo Prof. Henderson Souza

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