Síntese dos elementos essenciais do Saber Teológico do tipo cientifico ou acadêmico
- Henderson Souza
- 22 de abr. de 2023
- 7 min de leitura
Reflexões sobre a Definição da Teologia, ciência, sabedoria e espiritualidade.
A palavra teologia é de origem grega e tem um significado etimológico: livro de ciência de Deus. A teologia procura compreender e aprofundar a verdade desvendada pela luz da razão iluminada pela fé. Podemos defini-la como: uma ciência em que o raciocínio do homem crente é conduzido por convicções teológicas, tentando entender melhor o mistério que ela se revela e suas consequências para a existência humana.[1]
A teologia brota da iniciativa do teólogo como obra humana, fruto de sua inteligência. Entretanto, por defrontar-se precisamente com a fé, reconhece que essa sua inteligência só realiza obra teológica se iluminado pela fé e envolvida pela graça de Deus. (LIBÂNIO, 2005. p.74).
Por definição olhar a teologia como provento da razão e da fé. A revelação é a fonte primeira da fé cristã e, portanto, é o ponto de partida para a reflexão teológica. Sem a revelação divina, não haveria base para a construção de uma teologia cristã. É por meio da revelação que a Teologia busca compreender e interpretar a vontade de Deus, a história da salvação e a natureza da relação entre Deus e o ser humano. Assim, pode-se afirmar que a Revelação é um dos elementos essenciais no saber teológico cristão, sem os quais não seria possível falar em Teologia Cristã.
A teologia parte do orçamento de que Deus se revela ao ser humano, seja por meio das Escrituras, da natureza ou da história, e busca compreender essa revelação e interpretá-la de acordo com os princípios da fé cristã. A Teologia também é fundamentada na fé, que se baseia na confiança em Deus e na aceitação das verdades reveladas.
A teologia trata de Deus, mas mediado pela fé, pela acolhida de sua Palavra, que, por sua vez, nos vem comunicada pela revelação transmitida na Tradição da Igreja – escrita, vivida, pregada celebrada e testemunhada. (LIBÂNIO, 2005. p.67).
A fé é considerada um elemento essencial para a compreensão da revelação divina e da vontade de Deus. Fé é o ato pelo qual o ser humano acolhe a revelação de Deus e acredita nas verdades reveladas. É por meio da fé que se torna possível uma experiência pessoal de encontro com Deus e de comunhão com a comunidade cristã.
Além disso, a fé é também a base para a reflexão teológica, pois é a partir da fé que se busca compreender e interpretar a revelação divina [fé que busca inteligência][2]. Sem a fé, não seria possível falar em Teologia Cristã, pois esta pressupõe a existência de um sujeito crente que busca compreender e viver a sua fé de forma mais plena e consciente.
É ciência na medida em que opera a tríplice caracterização formal de toda ciência, que é ser crítica, sistemática e auto expansiva, onde a racionalidade da teologia, como ciência humana, é de tipo hermenêutico, buscando compreender, da maneira mais abrangente ou saturada possível, a Palavra ou o sentido da fé primeiro a partir do texto bíblico e depois à luz dele no texto da vida. Do ponto de vista analítico, a racionalidade hermenêutica da teologia se desenvolve de duas maneiras: as razões de convivência, que são primárias, e as razões necessários ou dedutivas, que têm função secundária na forma de sabedoria, na medida em que seu discurso é do tipo, global, experiencial e mística, principalmente como sabedoria de Deus.
A teologia exige uma comunidade eclesial/Igreja de suporte, de onde saímos e para onde voltamos para servir de forma mais qualificada.
A teologia não é uma disciplina acadêmica isolada, mas está enraizada na vida e na história da comunidade eclesial. A Igreja é o lugar onde a fé é vivida e testemunhada, e é a partir da experiência e da reflexão da comunidade que surgem as questões teológicas a serem investigadas. Ao mesmo tempo, a teologia também é um serviço à comunidade eclesial, pois busca aprofundar e esclarecer as verdades da fé para que a comunidade possa viver a sua experiência cristã de forma mais plena e consciente. Observemos no quadro o caminho do teólogo.

Por isso, é fundamental que a reflexão teológica esteja em diálogo constante com a vida da Igreja e com as suas necessidades pastorais. “Ao olhar-se para esse duplo caminho, percebe-se que nos dois casos a Igreja intermedia os dois parceiros fundamentais: Deus e o teólogo.”[3]
Sujeito Epistêmico (a pessoa do aprendiz de Teologia – Instrução sobre a Vocação do Teólogo.
O sujeito epistémico da teologia é o teólogo que tem por vocação buscar a razão da fé, intensificando a sua vida de fé unindo sempre pesquisa cientifica e oração. “A teologia brota da iniciativa do teólogo como obra humana, fruto da sua inteligência.”[4] Logo o teólogo deve discernir em si mesmo a origem e as motivações de sua atitude crítica e permitir que o seu olhar seja purificado pela fé, o empenho do teólogo exige um esforço espiritual de retidão e santificação.
Entre as vocações suscitadas na Igreja pelo Espírito, distingue-se a do teólogo, que em modo particular tem a função de adquirir, em comunhão com o Magistério, uma compreensão sempre mais profunda da Palavra de Deus contida na Escritura inspirada e transmitida pela Tradição viva da Igreja. Por sua natureza a fé se apela à inteligência, porque desvela ao homem a verdade sobre o seu destino e o caminho para o alcançar. Mesmo sendo a verdade revelada superior a todo o nosso falar, e sendo os nossos conceitos imperfeitos frente à sua grandeza, em última análise insondável (cf. Ef 3, 19), ela convida, porém, a razão — dom de Deus feito para colher a verdade — a entrar na sua luz, tornando-se assim capaz de compreender, em certa medida, aquilo em que crê. A ciência teológica, que respondendo ao convite da verdade, busca a inteligência da fé, auxilia o Povo de Deus, de acordo com o mandamento do Apóstolo (cf. 1 Pd 3, 15), a dar razão da própria esperança, àqueles que a pedem. (IDV. 7)[5].
O mesmo deve estar atento às exigências epistemológica da disciplina, às exigências do rigor crítico e consequente à verificação racional de todas as etapas da sua pesquisa, transcendendo a razão humana, a verdade revelada se harmoniza profundamente com ela, pois a razão que seja ordenada à verdade, iluminada pela fé, podendo penetrar o significado da revelação.[6]
É importante ressaltar que o conhecimento teológico não pode ser visto como uma mera construção intelectual, mas deve estar sempre ligado à experiência vivida de fé e à prática pastoral da comunidade.
O trabalho do teólogo responde assim ao dinamismo interno da própria fé: por sua natureza a Verdade quer comunicar-se, já que o homem foi criado para perceber a verdade, e deseja no mais profundo de si mesmo conhecê-la para nela se encontrar e para ali encontrar a sua salvação (cf. 1 Tm 2, 4). Por isto o Senhor enviou os seus apóstolos para que fizessem « discípulas » todas as nações e as ensinassem (cf. Mt 28, 19s.). A teologia, que busca a « razão da fé » e que àqueles que procuram oferece esta razão como uma resposta, constitui parte integrante da obediência a este mandamento, porque os homens não podem tornar-se discípulos se a verdade contida na palavra da fé não lhes é apresentada (cf. Rm 10, 14s.). A teologia oferece, portanto, a sua contribuição para que a fé se torne comunicável, e a inteligência daqueles que não conhecem ainda o Cristo possa procurá-la e encontrá-la. A teologia, que obedece ao impulso da verdade que tende a comunicar-se, nasce também do amor e do seu dinamismo: no ato de fé, o homem conhece a bondade de Deus e começa a amá-lo, mas o amor deseja conhecer sempre melhor aquele a quem ama. Desta dúplice origem da teologia, inscrita na vida interior do Povo de Deus e na sua vocação missionária, deriva o modo pelo qual ela deve ser elaborada para atender às exigências da sua natureza. (IDV. 7)
Portanto, o aprendiz de teólogo não pode dominar completamente o objeto que é Deus, pois a dimensão divina é sempre um mistério que ultrapassa a capacidade humana de compreensão, o teólogo é aquele que pelo carisma recebido do Espírito e pelo reconhecimento e recepção da comunidade, se esforça para levar à palavra de maneira orgânica e acabada mente reflexiva a vivência pessoal e coletiva das experiências do divino.
Objeto da Teologia: distinguir objeto material e formal.
O objeto material e o objeto formal. O objeto material da teologia é Deus, enquanto o objeto formal é a fé. [7] A teologia enfoca Deus e sua ação salvadora em Cristo. É por definição uma ciência teocêntrica e lida com Deus sob a forma de divindade. Mas a teologia não visa articular a verdade divina em si, mas apresentá-la e desenvolvê-la às pessoas. A ciência teológica estuda a natureza de Deus até onde é possível alcançá-la. Nunca se esquece que Deus é um mistério, não é um objeto ao qual se pode dar informação como os outros seres. O fato de a teologia ser a ciência de Deus significa que ela lida com tudo principalmente a partir de uma perspectiva divina. A distinção tradicional é a seguinte:
Objeto material - esta é a realidade de que trata a teologia. O objetivo é Deus e todas as realidades que Ele criou e governou por meio de Seu plano de salvação. O objeto material primário é Deus e o objeto secundário são todas as coisas criadas atribuídas a Deus. “poderíamos falar(...)Deus é o objeto “principal” da teologia; tudo o mais é objeto “consequencial”.”[8].
Objeto formal - representa um ponto de vista. Um é o objeto formal "quod": aquilo que pertence a Deus. Indicam a luz intelectual sob a qual o objeto é visto. Nesse caso, a mente é iluminada ou guiada pela fé. Temos o “como” de um saber. O objeto formal da teologia é a fé, ou seja, a experiência de encontro com Deus vivenciada pelos fiéis cristãos. “Ser teólogo é assumir uma ótica particular, É ver tudo à luz de Deus.”[9] A fé é o ponto de partida para a reflexão teológica, uma vez que é a partir dela que se busca compreender a mensagem de Deus e as implicações de sua presença na vida dos indivíduos e da sociedade.

Deus é o centro da teologia cristã e se encontra tanto no olhar do teólogo quanto no cenário da teologia, sendo visto como sujeito e objeto. A Revelação é vista como autocomunicação, onde Deus fala de si mesmo. A teologia cristã é o discurso da Palavra de Deus e não simplesmente a fé subjetiva dos fiéis. Portanto, a teologia não é o discurso do ser humano sobre Deus, mas sim o discurso de Deus sobre o ser humano. “A teologia se limitasse a ser um tratado sobre a fé em Deus, seria chamada de "pisteo-logia", e não "theo-logia".”[10]
Referências
[1] LIBANIO, João Batista; MURAD, Afonso. Introdução à Teologia: perfil, enfoques, tarefas. 5. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2005. P.62-63. [2] LIBÂNIO, 2005. p.68. [3] LIBÂNIO, 2005. p.72. [4] LIBÂNIO, 2005. p.74. [5] CONGREGAÇÃO DA DOUTRINA DA FÉ. Instrução Sobre a Vocação Eclesial Do Teólogo, Nº 122. São Paulo: Paulinas, 1990. N.6. [6] LIBÂNIO, 2005. p.73-76. [7] BOFF, Clodovis. Teoria do Método Teológico. 2. ed. Petrópolis-RJ: Editora Vozes, 2012 p.43-44. [8] BOFF, 2012. p.44. [9] BOFF, 2012. p.45. [10] BOFF, 2012. p.46.
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